Renda média do brasileiro cresce no 4º trimestre, mas ainda fica abaixo dos níveis pré-pandemia

A melhora na renda do brasileiro ainda não foi suficiente para apagar as perdas da pandemia. Dados divulgados nesta terça-feira (28) pelo IBGE apontam que, mesmo diante do aumento de 1,9% observado no último trimestre de 2022 em relação aos três meses anteriores, o rendimento médio no país ainda está distante do observado em níveis pré-pandêmicos.

Segundo o levantamento do IBGE, no 4º trimestre de 2022, a renda média do brasileiro ficou em R$ 2.808. Nos primeiros três meses de 2020, o valor era de R$ 2.853.

Em relação ao pico de R$ 3.013, alcançado no trimestre de maio a julho de 2020, a renda média do brasileiro ainda está em um patamar 6,8% menor.

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que também apontou uma redução na taxa de desemprego na comparação trimestral, a 7,9% (o equivalente a 8,6 milhões de pessoas desocupadas).

O contingente de pessoas ocupadas, por sua vez, foi estimado em aproximadamente 99,4 milhões no período.

Mas por que isso acontece?
Parte da explicação para esse cenário, segundo especialistas, está nos efeitos da própria pandemia.
 

“Tivemos uma perda nos rendimentos muito grande durante o período pandêmico, quando o mercado de trabalho se fechou diante do quadro que vivíamos. Houve uma queda na renda e uma perda do poder de barganha dos trabalhadores”, explica a economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lucia Garcia.


Garcia explica que, na prática, isso se traduz em uma alta na geração de empregos do país, mas em cargos que oferecem salários menores do que os já oferecidos no passado e pouca proteção ao trabalhador.
 

“Vemos uma geração de empregos ou de inserções que não garantem estabilidade para o trabalhador. O trabalhador assalariado no Brasil recebe, em média, R$ 2.500. E grande parte dos trabalhos atuais não garantem jornada plena, renda nem segurança institucional”, completa a economista.


O peso da inflação
Os especialistas destacam, ainda, que outro ponto importante a ser considerado nesse cenário é a pressão inflacionária que continua a ser vista no país.

Os últimos dados do IBGE sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, apontam que o indicador registrou mais um avanço de 0,53% em janeiro. No acumulado de 12 meses, a alta do índice foi de 5,77%.
 

“Então além dos efeitos pandêmicos, é preciso considerar que também vivemos um grande período de inflação alta, de dois dígitos, que corroeu o poder de compra dos consumidores. E as variações discretas e modestas do rendimento do trabalho que apareceram nos últimos meses 2022 até apontam para uma recuperação, mas o déficit ainda é muito grande”, afirma a economista do Dieese.


Esse cenário deve melhorar?
As perspectivas para o mercado de trabalho ainda dividem opiniões. Para o economista da LCA Consultores Bruno Imaizumi, por exemplo, mesmo que a evolução do mercado de trabalho tenha sido bastante positiva desde a vacinação, ainda é preciso considerar que parte dessa melhora ainda vem da informalidade e da saída de pessoas do mercado de trabalho.

“A taxa de desemprego não conta muito bem a história dessa evolução, principalmente porque vimos uma saída muito forte de idosos do mercado de trabalho. E vale lembrar quando eles [idosos] deixam de procurar emprego e deixam de se ocupar, acabam diminuindo o cálculo da taxa de desemprego”, explica o economista.


Ele destaca, no entanto, que ainda há uma recuperação importante dos níveis da ocupação e que essa melhora do mercado de trabalho deve continuar positiva ao longo de 2023, ainda que de maneira mais lenta diante do cenário doméstico desafiador — que deve contar com menos crescimento econômico, juros elevados e uma inflação ainda incômoda.

Já do lado da renda, o economista reitera que uma recuperação mais contundente dos rendimentos ainda é esperada para este ano.

“O salário é a última coisa do mercado de trabalho a se recuperar completamente. Acredito que ainda não vamos observar uma volta 100% da renda neste momento, mas [essa evolução] será um pouco mais notável ao longo de 2023”, completa Imaizumi.


Já para Garcia, do Dieese, o cenário ainda é bastante difícil para o mercado de trabalho brasileiro. “Apesar do aumento da ocupação, ainda vemos um cenário de alta informalidade e assalariamento com carteira em condições precárias, o que deixa um ambiente bastante difícil para o trabalhador”, afirma a economista.

“E isso sem contar que o ajuste no mercado de trabalho não é igual para todo mundo. Então, acredito que por mais que haja uma melhora das ocupações do ponto de vista estatístico, a renda só deve alcançar patamares melhores no final de 2023 ou no começo do ano que vem”, completa Garcia.


G1|Economia Por Isabela Bolzani


Editorial, 01.MARÇO.2023 | Postado em Mercado


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