Pesquisa indica queda da inadimplência pela primeira vez após 25 meses

A taxa de inadimplência entre pessoas físicas deve iniciar um movimento de queda a partir de setembro, após manter uma sequência de 25 meses – quase dois anos e meio – de alta. Depois disso, ela tende a permanecer em patamares mais baixos do que o atual nos meses de outubro e novembro.

Essa tendência de recuo do indicador foi captada em um estudo realizado em parceria pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) e pela FIA Business School. A inadimplência, destaca a pesquisa, cresce sistematicamente no país desde março de 2021.

A análise, nesse caso, aplica-se aos “recursos livres” existentes no Sistema Financeiro Nacional. Eles são considerados mais críticos sob o ponto de vista da inadimplência, porque excluem as dívidas com menor risco de atraso, como é o caso do crédito consignado.

Os recursos livres representavam R$ 97 bilhões, em julho, segundo dados do Ibevar-FIA. A pesquisa considera inadimplentes dívidas com ao menos um pagamento em atraso por mais de 90 dias.

Cálculo
O estudo calcula a inadimplência para um intervalo com limite inferior, média e limite superior. Ele indica que, em setembro, o limite inferior ficará em 5,91% do total de recursos livres. A projeção é que esse número caia para 5,76%, em outubro, e alcance 5,85%, em novembro, quando voltará a subir, mas permanecerá abaixo do patamar atual.

Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, destaca que as variações numéricas são pequenas, mas os valores envolvidos nessas alterações são expressivos. Isso porque essas alterações representam um percentual sobre todos os recursos livres disponíveis no mercado. Ou seja, sobre os R$ 97 bilhões, estimados para julho.

Explosão na pandemia
Felisoni observa que a inadimplência explodiu com a pandemia. “Primeiro, houve um impacto direto, com o aumento desemprego e a perda de renda corrente”, diz. “Depois, e em razão das medidas usadas para atenuar os efeitos da crise sanitária, houve uma enorme injeção de recursos na economia. Ela trouxe inflação, que funciona como um imposto, reduzindo a renda e aumentando a vulnerabilidade financeira das famílias.”

Agora, a tendência de recuo da inadimplência é puxada pela reversão desse quadro. “Há o arrefecimento da inflação e o aumento da renda real das famílias, que foi de 4% nos últimos 12 meses”, afirma Felisoni. Além disso, também contribuem para a queda da taxa a diminuição dos juros básicos, a Selic, iniciada em agosto pelo Banco Central (BC), além de fatores pontuais como a implementação do programa federal Desenrola, de renegociação de dívidas.

Incertezas no médio prazo
Para o presidente do Ibevar, o dado mais importante presente na pesquisa é a alteração do movimento da inadimplência – de subida para descida –, mas ele incide sobre o curto prazo.

“As condições de médio prazo, ou seja, para o próximo ano, ainda são frágeis”, diz. “Existem incertezas sobre o crescimento da economia, a resistência da inflação, principalmente em função das pressões vindas do setor de serviços. Temos também de lidar com um cenário externo complicado.”

Metróples Por Carlos Rydlewski
 
Editorial, 18.SETEMBRO.2023 | Postado em Mercado


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