Cenário para famílias endividadas é desafiador e inadimplência pode aumentar, alerta CNC

O cenário das famílias endividadas em 2022 é desafiador, nas palavras da economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Izis Ferreira.
Para ela, com o contexto macroeconômico atual, de juros e inflação altos, e renda em baixa, e vários compromissos a pagar em janeiro, como reajustes em mensalidades escolares e impostos, exigirá atenção das famílias em seu orçamento.A economista não descartou possível aumento de inadimplência, no começo do ano.
 
Ela fez as observações ao comentar a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada hoje pela CNC. O levantamento registrou média anual de 70,9% de parcela de famílias endividadas em 2021, ante 66,5% em 2020, maior patamar anual para a pesquisa desde começo da série da Peic, em 2010.
 
Vários fatores levaram a esse cenário, explicou a economista. Entre as famílias mais pobres, houve necessidade de recorrer ao crédito para fechar orçamento, devido ao preço mais caro em produtos básicos, como alimentos e combustível. Mas entre famílias mais ricas, o custo menor de crédito em relação a anos anteriores renovou interesse em entrar em financiamentos de bens de alto valor agregado, como imóveis e carros. Ao mesmo tempo, com a vacinação mais ágil e melhora de indicadores relacionados à pandemia, isso na prática conduziu a maior flexibilização social, o que estimulou retorno mais intenso de viagens, entre os mais ricos, com uso intensivo de cartão de crédito.
 
Sobre o cenário de 2021, a especialista comentou que, de maneira geral, em seu entendimento, o cenário de endividamento, do ano passado, mostrou aspectos favoráveis, entre as famílias. Isso porque não conduziu a uma piora nos indicadores de inadimplência. No ano passado, 25,2% de famílias endividadas informaram débitos em atraso, abaixo de 2020, quando essa parcela, para essa resposta, ficou em 25,5%. Além disso, as famílias que declararam contas em atraso, e sem condição de quitar seus débitos ficou em 10,5% no ano passado, abaixo dos 11% observados em 2020.

No entanto, admitiu que as famílias endividadas, esse ano, contam com vários desafios que podem afetar orçamento doméstico para 2022, bem como capacidade de pagamentos de débitos, notou ela.

Ela pontuou que analistas de mercado sinalizam que esse ano será de menor crescimento econômico. Isso em um ambiente que já conta com incertezas na seara política, visto ser ano de eleições. Ao mesmo tempo, o ano de 2022 já começa com sinais de fragilidade no mercado de trabalho, com abertura de vagas mais concentradas em trabalhos com baixa remuneração.

A economista comentou que, com renda menor originada do trabalho, torna-se mais difícil para as famílias acompanhar, no pagamento de suas contas, o avanço da inflação no período, que dá sinais de continuidade no começo do ano.

Todos esses aspectos reunidos compõem um cenário de orçamento apertado entre as famílias, principalmente entre os mais pobres, admitiu ela – justamente em janeiro, um mês conhecido historicamente por ser de maiores gastos, como compra de material escolar, e necessidade de pagamentos de impostos como IPTU e IPVA.

“De fato, vamos entrar em 2022 com mais atenção, com possibilidade de aumento de inadimplência” afirmou ela, não descartando piora, nesse indicador na Peic, no primeiro trimestre de 2022.

 
Valor Investe
Editorial, 26.JANEIRO.2022 | Postado em Mercado


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